A lagarta-da-panícula do arroz tem ganhado destaque como uma das principais pragas da cultura do arroz no Brasil. A agricultura moderna enfrenta diversos desafios no combate a pragas, e essa lagarta se tornou uma das grandes preocupações dos produtores devido ao impacto econômico significativo que causa. 

Com a crescente demanda por arroz, a manutenção da qualidade e da produtividade é fundamental para atender ao mercado, principalmente interno. Assim, o controle eficaz da lagarta-da-panícula torna-se uma prioridade, uma vez que surtos dessa praga podem gerar perdas consideráveis de produção, afetando não apenas a economia agrícola, mas também a segurança alimentar. 

Os produtores de arroz precisam estar cada vez mais preparados para identificar e controlar essa praga, favorecida por condições climáticas específicas. Neste artigo, será explorado em detalhes as características dessa espécie, os danos causados à cultura do arroz, o cenário de sua incidência no Brasil e as principais práticas de controle adotadas pelos produtores, com enfoque no Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Identificação da lagarta-da-panícula do arroz

A fase adulta da Pseudaletia sequax é uma mariposa caracterizada por um ponto escuro bem visível no centro de suas asas anteriores. O tamanho do adulto é em torno de 2,5 cm de comprimento.

O ciclo de vida dessa praga tem início quando a mariposa realiza a oviposição, depositando seus ovos nas folhas e no colmo do arroz. A fêmea consegue fazer a postura de até 1000 ovos durante toda sua fase adulta. Os ovos arredondados possuem coloração branca-brilhantes e são frequentemente depositados nas extremidades de folhas mais secas, normalmente em grupos. Após cerca de quatro dias, as lagartas eclodem.

As lagartas nascem com 1 mm de comprimento em média e podem alcançar até 5 cm aproximadamente. Possuem três pares de pernas torácicas e cinco pares de falsas pernas na região abdominal. No início da fase de larva, os indivíduos são esverdeados e ao longo do desenvolvimento podem apresentar coloração mais próxima ao preto, com listras longitudinais claras e escuras. 

As pupas ocorrem no solo, próximas à superfície ou em restos culturais da lavoura, com duração média de 13 dias a 25 °C.

A taxa de desenvolvimento da lagarta-da-panícula é proporcional ao aumento da temperatura ambiente, o que significa que em condições de temperaturas mais elevadas, a espécie tende a se multiplicar mais rapidamente. 

Danos da lagarta-da-panícula 

Nos estádios iniciais do desenvolvimento do arroz, a lagarta se alimenta das folhas, mas, à medida que a cultura avança, seu ataque se concentra nas panículas. Embora a ocorrência dessa praga possa começar já na fase de perfilhamento da planta, sua presença é mais comum e intensa na fase de emissão da panícula, persistindo até o momento da colheita.

As lagartas alimentam-se dos grãos ainda em formação, comprometendo severamente a produção. Em infestações graves, a perda de produtividade pode ser expressiva, levando a reduções significativas no volume de colheita e afetando a qualidade dos grãos, que podem se apresentar malformados ou chochos.

Além disso, o ataque das lagartas pode debilitar a planta, deixando-a mais suscetível a doenças secundárias e outras pragas. A ação contínua da praga compromete a vitalidade da lavoura, influenciando diretamente o desenvolvimento da cultura e resultando em perdas financeiras significativas para os produtores.

Com hábitos predominantemente noturnos, as lagartas passam o dia abrigadas na parte inferior das plantas, tornando-se mais ativas durante a noite. Devido a esse comportamento, o monitoramento da lavoura deve ser intensificado ao entardecer, principalmente durante a formação das panículas. 

Em lugares com escassez de alimentos, a praga pode migrar para outros locais. Seus danos também são encontrados em outras gramíneas, como cevada, aveia e milho, e por esse motivo, são consideradas pragas polífagas.

Para evitar que esse desafio comprometa seriamente a lavoura de arroz, o produtor deve adotar um manejo que atue com diferentes formas de controle.

Métodos de controle da Pseudaletia sequax

O controle da lagarta-da-panícula deve ser realizado de maneira integrada, utilizando diversas técnicas para reduzir a população da praga de forma sustentável. 

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a principal estratégia adotada pelos produtores, pois alia diferentes métodos de controle e visa minimizar os danos e os custos causados pelas pragas nas lavouras. Entre as diversas vantagens do MIP, podemos citar:

  • sustentabilidade econômica: ao integrar diferentes técnicas, o MIP reduz os custos de produção relacionados às perdas causadas por pragas, melhorando a rentabilidade do cultivo.
  • monitoramento eficiente: a estratégia incentiva a inspeção contínua da lavoura, permitindo a detecção precoce de infestações e a adoção de medidas corretivas no momento certo, evitando danos maiores.
  • maior eficiência no controle de pragas: a integração de diferentes métodos de controle, como o biológico, o químico e o cultural, torna o combate às pragas mais eficaz e específico, reduzindo as chances de novas infestações.
  • adaptação às condições locais: o MIP permite ajustar as estratégias de controle conforme as condições específicas de cada região e safra, levando em conta o clima, o tipo de solo e a dinâmica das pragas.
  • prolongamento da vida útil dos defensivos: o uso racional de inseticidas no MIP, associado à rotação de produtos, preserva a eficácia desses produtos, evitando que a seleção de organismos resistentes ocorra rapidamente.
  • compatibilidade com certificações de sustentabilidade: o MIP é amplamente aceito em programas de certificação agrícola sustentável, o que agrega valor ao produto final e melhora a imagem do produtor no mercado.
  • maior controle sobre a produção: com monitoramento constante e uma abordagem integrada, o produtor tem mais previsibilidade e controle sobre a lavoura, podendo tomar decisões mais assertivas e reduzir surpresas negativas na colheita.
  • contribuição para a biodiversidade: a aplicação do MIP mantém e favorece a biodiversidade no campo, preservando habitats de organismos benéficos e contribuindo para o equilíbrio natural do ecossistema.

Tantos benefícios são resultados da integração do monitoramento e dos diferentes tipos de controle disponíveis.

Monitoramento e identificação

O monitoramento regular das lavouras é uma prática indispensável para a detecção precoce de infestações de Pseudaletia sequax. O acompanhamento deve ser feito por meio da inspeção visual das plantas, principalmente durante a fase de formação das panículas.

Produtores e técnicos agrícolas devem estar atentos aos primeiros sinais de ataque, como o aparecimento de grãos danificados ou a presença de lagartas nas plantas. A identificação precoce permite que medidas de controle sejam adotadas antes que a praga se alastre, minimizando os danos.

Controle cultural

O controle cultural é uma das estratégias mais importantes e sustentáveis no manejo da Pseudaletia sequax, pois envolve práticas de manejo agronômico que dificultam o desenvolvimento da praga. Essas práticas visam criar condições menos favoráveis para a sobrevivência e proliferação da lagarta, além de promover a saúde geral da lavoura, tornando-a mais resistente a ataques de pragas.

Entre as principais técnicas de controle cultural para a lagarta-da-panícula do arroz, destacam-se:

  • rotação de culturas: alternar o cultivo de arroz com outras culturas não hospedeiras da Pseudaletia sequax, como leguminosas, quebra o ciclo de vida da praga e reduz as populações residuais na área. Essa prática impede que a lagarta tenha alimento contínuo e abrigo, forçando a diminuição de sua incidência.
  • adubação equilibrada: plantas bem nutridas são mais resistentes a ataques de pragas. O uso correto de fertilizantes, especialmente adubos nitrogenados, permite que o arroz tenha um crescimento saudável, reduzindo o impacto do ataque da lagarta. Por outro lado, o excesso de nitrogênio pode atrair pragas, portanto, é necessário equilibrar as doses.
  • irrigação adequada: a irrigação bem manejada pode influenciar na população da lagarta-da-panícula. Evitar o excesso de umidade na lavoura ajuda a reduzir a proliferação da Pseudaletia sequax, principalmente em cultivos em sistemas de sequeiro. 
  • sincronização da semeadura: planejar a semeadura em épocas adequadas, preferencialmente fora do período de pico de incidência da lagarta, ajuda a evitar que as fases mais suscetíveis da cultura (como a emissão da panícula) coincidam com os momentos de maior população da praga.

Controle biológico

O controle biológico é uma das ferramentas mais promissoras e sustentáveis no manejo da lagarta-da-panícula. Essa estratégia consiste no uso de inimigos naturais da praga para manter suas populações em níveis que não causem danos econômicos significativos. 

Cada vez mais, o controle biológico vem se destacando como uma alternativa eficiente e ambientalmente responsável, integrando-se ao MIP e contribuindo para a sustentabilidade das lavouras de arroz.

Entre os principais agentes biológicos que atuam no controle da Pseudaletia sequax, destacam-se:

  • parasitoides: insetos como vespas e moscas, têm grande eficácia no controle da lagarta-da-panícula. Esses organismos depositam seus ovos dentro dos ovos da lagarta, impedindo seu desenvolvimento. O uso desses parasitoides é uma solução de controle altamente específica e eficiente, com baixo impacto sobre outros organismos benéficos na lavoura.
  • predadores naturais: vários predadores, como besouros, desempenham um papel crucial no controle da população de lagartas. Esses insetos se alimentam das lagartas jovens, impedindo que atinjam estágios mais destrutivos. A promoção de ambientes favoráveis para esses predadores na lavoura, como áreas de vegetação nativa nas bordaduras, pode aumentar sua presença e eficácia.
  • microrganismos entomopatogênicos: fungos, vírus e bactérias também são ferramentas promissoras no controle biológico. O uso de fungos entomopatogênicos já mostrou eficiência no combate à lagarta-da-panícula, causando doenças que levam à morte das lagartas. Esses agentes são aplicados diretamente na lavoura e atuam de maneira seletiva, sem afetar outros insetos benéficos ou o ambiente.

O controle biológico se mostra como uma ferramenta de baixo custo e alta eficiência, podendo ser utilizado em conjunto com outras práticas do MIP para maximizar seus resultados. Seu uso estratégico promove uma produção limpa e saudável, tanto para os consumidores quanto para o meio ambiente. 

O investimento em pesquisas e na ampliação do uso dessa técnica pode transformar o controle biológico em uma ferramenta essencial para o manejo da Pseudaletia sequax e outras pragas no arroz, possibilitando uma agricultura mais sustentável e rentável.

Controle químico

O controle químico continua sendo uma ferramenta importante no manejo da lagarta-da-panícula, especialmente em situações de alta infestação, nas quais as práticas culturais e biológicas por si só podem não ser suficientes para evitar danos econômicos. 

No entanto, para obter eficácia a longo prazo e evitar problemas como a resistência da praga aos inseticidas, é fundamental adotar o uso consciente dos defensivos, com destaque para a rotação de moléculas com diferentes modos de ação.

Quando o mesmo produto ou grupo químico é utilizado repetidamente, o produtor pode acabar, não intencionalmente, selecionando organismos resistentes ao princípio ativo aplicado, tornando o controle cada vez mais difícil e caro. Isso ocorre porque uma pequena parte da população pode apresentar uma resistência natural ao inseticida, e o uso contínuo desse produto favorece a sobrevivência e reprodução dos indivíduos resistentes, que acabam por dominar a população ao longo do tempo.

Para evitar esse problema, é essencial rotacionar inseticidas com diferentes modos de ação. Ou seja, alternar o uso de produtos com princípios ativos distintos impede que a praga se adapte a um único mecanismo de ataque. 

Outro importante ponto é que essa rotação reduz a pressão de seleção sobre a praga, preservando a eficácia dos inseticidas por mais tempo e permitindo que as populações de Pseudaletia sequax sejam mantidas sob controle.

Além da rotação de moléculas, outros fatores importantes no uso do controle químico incluem:

  • momento correto da pulverização sobre a praga;
  • dose recomendada;
  • condições climáticas;
  • intervalos de aplicação;
  • tecnologias de aplicação.

O controle químico, quando utilizado de forma responsável e em conjunto com outras práticas do MIP, pode ser altamente eficaz no controle da Pseudaletia sequax. Ao integrar diferentes métodos de controle, os produtores conseguem um manejo mais sustentável e seguro, minimizando o impacto ambiental e os riscos de resistência.

A importância de estratégias integradas no controle da Pseudaletia sequax

O controle da lagarta-da-panícula do arroz exige uma ação integrada. A adoção do MIP nas lavouras de arroz é fundamental para a sustentabilidade da produção, reduzindo os impactos econômicos e ambientais causados pela praga.

A implementação de práticas como a rotação de culturas, o uso de agentes biológicos e o monitoramento constante são passos essenciais para o sucesso no controle da Pseudaletia sequax. Além disso, o manejo adequado da adubação e a escolha correta de defensivos químicos contribuem para manter a população da praga sob controle, sem comprometer a saúde do solo e das plantas.

Em um cenário onde a produção de arroz no Brasil enfrenta crescentes desafios, o uso de estratégias sustentáveis e eficazes no controle de pragas é um caminho para a viabilidade econômica e ambiental da cultura a longo prazo.